O Início da Física Médica no Brasil
Pode-se dizer que as atividades de Física Médica no Brasil iniciaram no ano de 1956, quando a física Esther Nunes Pereira foi admitida no serviço de radioterapia do Instituto Nacional do Câncer no Rio de Janeiro. Nesta mesma época, o físico Dirceu Martins Vizeu foi convidado pela Associação Paulista de Combate ao Câncer para trabalhar em planejamento e dosimetria em radioterapia.
Neste ano foi criado em São Paulo o Instituto de Energia Atômica, hoje Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares – IPEN/CNEN, e com ele a Divisão de Física na Saúde. Mas as atividades de Física Médica em Medicina Nuclear iniciaram efetivamente em 1959, quando o físico Alipio Luiz Dias Neto ligou-se ao Centro de Medicina Nuclear da USP.
No ano de 1956 foi criada também a Comissão Nacional de Energia Nuclear que implantou, alguns anos depois, um Laboratório de Dosimetria das Radiações na Universidade Católica no Rio de Janeiro, com a colaboração do Professor Bernard Gross e, posteriormente, se desenvolveu no atual Instituto de Radioproteção e Dosimetria, que é o Laboratório Nacional de Metrologia das Radiações Ionizantes e a mais importante instituição de Proteção Radiológica da América Latina.
O Hospital A.C Camargo em São Paulo, destacou outro físico pioneiro da radioterapia no Brasil, o Professor Adelino José Pereira que por quatro décadas se dedicou à prática e ao ensino de radioterapia para médicos e físicos de todo país.
Estas cinco Instituições foram as incubadoras da Física Médica no Brasil.
A Fundação da ABFM
Assim, em Julho de 1969, um pouco mais de duas dezenas de físicos, motivados pelo professor John Roderick Cameron, da Universidade de Winsconsin – USA, reuniram-se no Centro de Medicina Nuclear em São Paulo para discutirem a importância e a necessidade de se criar uma Associação de Físicos em Medicina e Biologia. Então, em 25 de agosto de 1969, sob a liderança dos Professores Thomaz Bitelli e Shigueo Watanabe, a nossa ABFM – Associação Brasileira de Físicos em Medicina, hoje Associação Brasileira de Física Médica, foi criada.
É importante mencionar três médicos, aos quais a ABFM e a Física Médica no país deve a sua existência: os Doutores Mathias Octávio Roxo Nobre (em São Paulo) e Osolando Machado (no Rio de Janeiro), dois dos mais ilustres radioterapeutas brasileiros, e o Doutor Tede Eston de Eston, fundador do Centro de Medicina Nuclear. Foram os primeiros médicos a interagirem e a valorizar os Físicos em medicina.
Logo após a criação da ABFM vislumbrou-se um imediato progresso em radioterapia, medicina nuclear e radiodiagnóstico e outras atividades afins no país.
No início os membros da ABFM estavam localizados nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Com o passar do tempo e principalmente nas décadas de 70 e 80, houve uma descentralização, não somente para o interior de São Paulo, mas também para outras regiões do País. Como exemplo dessa descentralização pode-se citar grupos que iniciaram atividades em São Carlos, Campinas, Ribeirão Preto, Recife, Curitiba, Belo Horizonte e outras capitais.
As Atividades Científicas
Durante estes mais de trinta anos, a ABFM foi responsável e/ou colaborou para a realização de várias reuniões nacionais e Internacionais.
Para promover interações na América Latina, foi realizada em 1972 em São Paulo a Primeira Conferência Latina Americana sobre Física em Medicina e Proteção Radiológica. A Segunda Conferência foi realizada em Belo Horizonte no ano de 1975. Em 1977 foi realizado o Seminário Internacional sobre Física Médica em Teresópolis, anterior ao Congresso Internacional de Radiologia realizado no Rio de Janeiro.
A Conferência do Décimo Aniversário que foi realizada em São Paulo em 1979. A ABFM promoveu também importantes simpósios nacionais como as Jornadas em Física Médica de Ribeirão Preto, em março de 1983, do Rio de Janeiro, em agosto de l983, de Juiz de Fora, em abril de 1984 e de Recife no ano de 1985.
Em 1985 e 1987 a ABFM realizou o I e II Congresso de Física Médica juntamente com Congresso Brasileiro de Radiologia realizados em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, respectivamente. O Primeiro encontro de Física Médica do INCa foi realizado em 1988. Em comemoração ao vigésimo aniversário, a ABFM realizou o III Congresso em Águas de Lindóia em 1989.
Em 1990, foram realizados o II Workshop em Física Médica de Ribeirão Preto e o I Workshop de Física Médica e Engenharia Biomédica juntamente com a V Conferência Latina Americana de Física Médica, cujo objetivo principal foi o de promover a Física Médica e a Engenharia Biomédica para uma maior interação entre os grupos latinos americanos.
Posteriormente, foram realizados o IV e o V Congresso Brasileiro de Física Médica, juntamente com I e II Fórum de Ciência e Tecnologia em Saúde, em Caxambu no ano de 1992 e em Campos do Jordão em 1996, respectivamente.
Em 1994, junto com a Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica, realizou o Congresso Mundial sobre Física Médica e Engenharia Biomédica no Rio de Janeiro, o evento mais importante de nossa área e que se realiza a cada três anos em um dos paises membro da IOMP.
A ABFM tem mantido uma agenda de participação anual nos encontros promovidos pela Sociedade Paulista de Radiologia e de alguns congressos Brasileiros de Radiologia. Em 2001, a partir da observação do aumento do interesse na área de física médica, foi então realizado no Rio de Janeiro o VI congresso Brasileiro de Física Médica. Este foi o primeiro evento “solo” da ABFM. O enorme sucesso do VI CBFM, que contou com mais de 450 participantes, incentivou a diretoria da ABFM a programar vários congressos anuais de física médica. No momento já estão agendados os eventos para 2002, 2003 e 2004.
A Qualificação
Nos últimos anos a ABFM vem se empenhando no sentido de apoiar ações para promover a formação de recursos humanos qualificados; promover a formação de uma consciência crítica voltada para a proteção radiológica e controle de qualidade entre profissionais que utilizam equipamentos emissores de radiações ionizantes.
Dentro de sua missão institucional, a exemplo de paises como os Estados Unidos, a ABFM desenvolveu um programa de certificação da qualificação de especialistas em Física Médica. Em 1977, aplicando uma metodologia baseada na avaliação de titulo e experiência profissional, foram formalmente certificados os primeiros 31 especialistas em física radiológica. A partir de 1985, com o apoio formal da CNEN e do CBR, a ABFM estabeleceu seu sistema de prova para título de especialista. Inicialmente a procura ficou restrita à área de física de radioterapia. A partir de 1995, foi estabeleceu um novo processo de exame, oferecendo provas para certificação de físicos médicos nas 3 diferentes áreas de atuação.
Os títulos de especialista da ABFM são reconhecidos por vários órgãos oficiais como Comissão Nacional de Energia Nuclear, Ministério da Saúde (Portarias GM-3535/98 e SAS-113/99) e Vigilância Sanitária de São Paulo (Portaria SVS-625/94) e colegiados profissionais como o CBR e SBBMN. Nesse contexto, a ABFM desenvolve também um programa de credenciamento de clinicas e hospitais de modo a balizar a formação do físico médico que é principalmente obtida nos treinamentos de residências e estágios de aprimoramento, em pós graduação.
A ABFM é uma das sociedades científicas membro da SBPC e é afiliada à International Organization of Medical Physics (IOMP) e à Asociación Latina Americana de Física Médica (ALFIM). Mantém acordos de cooperação com a Comissão Nacional de Energia Nuclear e com o Colégio Brasileiro de Radiologia e possui representações no programa de qualidade em radioterapia (PQRT/INCa) e no conselho assessor do INCa (CONSINCA) do Ministério da Saúde.